Estação Barra Funda do metrô. Sábado. Oito da noite.
Uma senhora de cabelos grisalhos, presos em um coque, espera sua filha. Olhando para o chão, ela chuta uma bituca de cigarro esquecida por algum fumante mal-educado. De braços cruzados, usa uma camisa marrom com pequenas flores beges, uma saia vinho e meia cinza, daquelas que o médico prescreve para quem tem varizes. Sua igreja não permite que usem calça comprida. O maior desgosto da sua vida é ver que sua filha em nada a segue. Vai a uma igreja, é bem verdade. Mas dessas modernas que tocam música barulhenta e tem gente de cabelos coloridos.
O moço de boné, sentado em uma dos assentos laranjas, olha para o nada. Às vezes abaixa a cabeça e parece coçar os olhos. Ele chora em silêncio, disfarçadamente. Acabara de descobrir ter sido traído pela namorada. Pensa sobre o que fazer. Está sem rumo. O que sobrou se não existem mais os planos de casamento? E as alianças para a festa de noivado já estavam guardadas em sua gaveta de roupas íntimas? E os amigos? O que dirá a eles? Ah, a vergonha de admitir ter sido traído doía mais do que saber que estaria sozinho dali em diante. Sete anos de namoro. As viagens, as brigas, as reconciliações, o primeiro beijo… Olhos vermelhos, desiludidos. Ele espera o ânimo de enfrentar a vida.
Duas meninas conversam animadamente. Ambas usam calças jeans apertadas, blusas que deixam a barriga, nada em forma, de fora. Ao lado, o menino que as acompanha sugerem que tirem algumas fotos daquele momento para colocarem mais tarde em suas páginas do Orkut. Uma das moças, a de cabelo preto ondulado, desdobra um papel onde se lê: “Chat Papo Amizade”. Eles esperam por pessoas que conheceram através de um bate-papo via telefone, daqueles em que todos falam ao mesmo tempo com todos. Sabe? Aqueles que são anunciados de madrugada na tv, mostrando modelos bonitas falando com homens musculosos e todos parecendo se divertir muito.
Uma moça de unhas pintadas de preto masca um chiclete ansiosamente. Olha para o relógio. Será que ele vem? Pega o espelho na bolsa, retoca a maquiagem. E se vier? Precisava estar bonita. Se viam tão pouco. E depois de algum tempo saindo ela ainda não sabia qual era seu status. Ficante? Namorada? Um caso? Que nome seria dado? Será que ele pensa em ficar com outras? Enquanto fazia essas perguntas para si mesma, andava de um lado para o outro, olhava para o rua em busca de respostas. E se ele não viesse? O que significaria?
O homem de camisa azul fuma seu último cigarro. Tem vontade de beber uma dose de cachaça, mas sabe que não pode. Seis meses sóbrio. Era sua vitória. Mas o cigarro, ah, esse não dava para largar. Ele espera um conhecido que lhe pagaria por um serviço feito na semana anterior. Era o dinheiro da salvação. Sem emprego fixo, as contas se amontoavam sobre a mesa. Sentia vergonha pois estava vivendo com o salário da esposa. Ele, ela e os dois filhos. Não deveria ser assim. Ele aprendera que o homem da casa deveria sustentar sua família, como dizia seu pai.
A mulher ruiva de olhos verdes, vestida com um uniforme azul, pensa na batalha que viria a seguir: chegar em casa, fazer a janta, lavar duas bacias de roupas e colocar os quatro filhos para dormir. Ela espera seu marido, que já estava atrasado. Onde ele estaria? Ainda teriam que tomar dois ônibus para chegar em casa, será que ele tinha que se atrasar sempre os dias? Em pleno sábado, ela, que trabalhara o dia todo espera por ele, que vinha do futebol com os amigos. Impaciente, rói o canto de uma das unhas.
A menina de olhos castanhos, amendoados, olha para o nada. Parece triste. Sozinha. Imóvel. Ela espera que algo mágico aconteça e sua vida mude. Ela espera que a felicidade a encontre. Ela espera, mesmo sabendo que ficar parada ali não adianta nada. Mas espera.